Distorcidamente tendencioso

29 de julho de 2010



Sucupira, ou seria melhor dizer, Marechal Deodoro, cidade onde foi filmada a maior parte do longa o Bem Amado, é de longe o melhor do filme. Adaptado para o cinema por Guel Arraes, as Peripécias de Odorico Paraguaçu já foram sucesso na TV. Isso lá na década de 70 e 80. Ficou no imaginário popular.

Quem nunca escutou a comparação entre tal político e Odorico? E as irmãs Cajazeiras então? Famosas Brasil afora. Drica Moraes faz a bêbada Judicéia, Zezé Polessa, a castíssima Dorotéia e Andrea Beltrão a amante Dulcinéia. Deixaram de ser beatas, como eram na TV. No cinema são peruas que divertem o prefeito e colaboram para o clima barulhento do longa.

Marco Nanini só não rouba a cena porque é o protagonista. Deixa isso para o assassino Zeca Diabo, em interpretação de José Wilker, que apesar de matador, é o único que não precisa impor-se no grito. O som cansa no filme, porque até quando ninguém fala, vem uma complementação sonora, algumas músicas são boas, mas a interpretação de Malu Magalhães era desnecessária. Matar o silêncio nem sempre é a melhor saída.

Por falar em morte, esta é o tempo todo exaltada na sátira política, seja pelo prefeito desesperando em ter um defunto para o cemitério da cidade, seja pela hipócrita oposição, querendo a morte do que o prefeito representa. O comunista Wladymir, representado por Tonico Pereira, é capaz de mentir, aceitar propina e
subornar vereadores, tudo em nome do povo.

Povo, aliás, utilizado como massa de manobra e representado por seu Moleza, atuação de Edmilson Barros, um cachaceiro que é a mistura de Nezinho e Chico Moleza, ambos da história original. É um espelho pra lá de distorcido do brasileiro, embora a atuação seja boa. Mas essa não é a única falha do filme, cheio de discursos partidários.

Não precisava, por exemplo, comparar o tempo todo Sucupira com o Brasil, muito menos no globo terrestre. Só faltou o Guel Arraes aparecer na tela e fazer entre aspas com os dedinhos. Não ficou engraçado, ficou chato e forçado. Também era desnecessário mostrar o Lula no filme. Tornou o tom ainda mais panfletário. Ok! É ano de eleições, uma boa oportunidade de fazer o cidadão pensar. Pensar é diferente de propagar em todo o Brasil uma mensagem tendenciosa.

Não por acaso, o único ser decente de toda a história era comunista e revolucionário, o narrador Caio Blat. E o vilão bonachão, um conservador de marca maior. Hoje em dia é quase um crime ser capitalista, ou melhor, ser de direita. Mas é sabido que a corrupção é um mal capital, não partidário.

É por isso que Marechal é de longe o melhor do filme. A cidade pequena do estado de Alagoas é banhada por beleza natural, como a lagoa Manguaba, mostrada perto da prefeitura de Sucupira e a praia do Francês, amada por turistas do mundo todo e cenário do amor do fotógrafo (Caio Blat) e da filha do prefeito (Maria Flor).

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