Um domingo qualquer

29 de março de 2010


Foto: Luisa Picanço - Chocolataria grenoblois


Santa Cecília, Paraíso, Ana Rosa, Vila Mariana, Vergueiro, Aclimação, Tatuapé. Tudo embalado para domingo. E eu vivendo cada um dos momentos com meu entusiasmo típico.

De manhã na Santa Cecília, desci rumo ao metrô e lá bem pertinho tem a igreja de Santa Cecília. Tinha um milhão de católicos com raminhos. Domingo de Ramos. Cheira a páscoa, né? O dia em que se começa a semana Santa.

Depois da igreja tinha uma feira. Primeira grande fartura de odores do dia. Aquela mistura de laranja e peixe, sempre tão característica... Detesto, mas respeito.

No Paraíso tive vontade de almoçar sushi. Vontade compartilhada por dois bons amigos. Descemos via Ana Rosa (que cheira a metrô) até a Joaquim Távora na Vila Mariana. Surpresa? O sushi tinha fechado. Impossível! Comemos carne-de-sol. Carne-de-sol, para mim, tem sempre o cheiro de Brasília.

Saí correndo da Vila Mariana, pois estava atrasada para meu primeiro encontro com o budismo. Achei engraçado conhecer outra religião no Domingo de ramos. Aos que gostam de teologia, foi neste dia que Jesus Cristo chegou à Jerusalém em um burrinho para comemorar a Páscoa Judaica. Judaísmo, Cristianismo e Budismo, tudo em um só domingo, que delícia!

O lugar do templo budista tinha essência de quê? De gibi, com certeza. E também de ar-condicionado, sabe? Aquele cheiro de ar-condicionado, não sei como as pessoas aguentam... Saí de lá um tanto decepcionada porque esperava bem menos da filosofia budista. Um menos que era mais, o que é difícil de explicar.

Já na rua senti a chuva, aquele perfume apaixonante de terra molhada.

Cheguei em casa, troquei a roupa molhada por uma seca e quentinha (amaciante sempre lembra roupa limpa, né?) e saí rumo ao Tatuapé para comprar ovos de páscoa.

Meio óbvio que o odor da vez era o chocolate. Remeteu-me imediatamente às chocolatarias francesas. Impossível esquecer o cheiro de uma chocolataria. Tem uma no Leblon que tem o mesmo perfume das francesas. Ainda não achei uma aqui em SP, mas com certeza tem.

Depois tomei um mate com um amigo. Mate me remete ao Rio. Não há como negar. Voltando pra casa, passei pela Sé, tem um cheiro de guardado, meio sujo, sei lá. E também me lembra biscoito recheado de morango (não sei por que).

Cheguei a uma boa conclusão: São Paulo começa a ter aroma para mim. Adoro odores. Em outra vida fui perfumista. Demorou mais que o meu costume, mas acho que agora já reconheço olfativamente a cidade. Tem cheiro de café, chocolate, chuva, feira, metrô, ar-condicionado e shopping.

Também lembra carro, molho de tomate (hum! daqueles com muito alho e cebola) e mortadela. Experimente sentir estes aromas da próxima vez que andar por aqui.

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Fênix

27 de março de 2010


"Nossa Senhora de Aparecida" - Ronaldo Mendes


Hoje fui à igreja São Luís. Aquela que você acha bizarra, no fim da Paulista, sabe? Lembrei de você. Sempre lembro. Lembro do dia que soube que você estava com um nódulo no pescoço. Eu ainda não morava aqui e você ainda não morava na Suíça.

Mas eu estava na Consolação e entrei justamente nesta igreja, pedi a São Luís que lhe curasse. Fiz mil promessas pra ele e pra Nossa Senhora. Até Cururupu eu prometi conhecer. E ainda devo uma missa pra eles na cidade de São Luís do Maranhão. Tudo por sua causa.

As promessas valeram.

Mas você precisava estar tão longe de mim? Por que foi mesmo que eu deixei você partir? Devia ter concordado com seus pais, nada de ir morar tão longe. É que eu achava que seria bom para você. E não foi? Para seu crescimento, desenvolvimento, relacionamentos, mas, na verdade, pra mim (com o perdão da rima fraca) é um tormento. E que coisa mais feia não me responder os e-mails, até parece que não sente minha falta. Eu sei que sente.

Menina mal criada! E eu sinto tanta a sua falta que fico com vontade de ir à nossa cidade, só pra ver se consigo sentir você mais perto de mim. São Sebastião que a proteja, minha pequena.

Tudo o que eu mais quero na vida é que você seja feliz, sem nódulos (já combinei tudo com São Luís e Santa Maria) e que, bom, morando em Genebra ou em Santa Catarina você mande um e-mailzinho só de vez em quando para eu saber que está tudo bem, pode ser?

Por que saudade é assim? A gente mata, ela renasce. Parece fênix. Que coisa! Foi por causa dela que eu resolvi escrever. To tentando enrolar a danada, mas ela é bem mais esperta que eu, confesso. Depois deste texto estou com mais saudade ainda de você.

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Cor-de-céu-paulistano

15 de março de 2010


Foto original no blog gente de lisboa

Tive um sábado impossível. Impossível para o meu bobo mundo cor-de-rosa. Começou bem, fui ao teatro com uma amiga, coisa mais normal do mundo no meu universo.

Depois de lá, as colegas dela nos chamaram para uma baladinha. Topei. Fui e vi meu mundo cor-de-rosa entrar em choque com a realidade cor-de-céu-paulistano.

No meu universo particular as pessoas não são idiotas, as pessoas não são fúteis e as pessoas definitivamente não usam drogas. No meu mundo cor-de-rosa, as flores são cheirosas, os animais são nossos amigos, há momentos de extremo prazer ao cozinhar para amigos e as pessoas são confiáveis. E eu me esforço pra entender o outro e eu sofro pelo outro no meu mundo. Desculpem se tendo a alienação, eu tenho a péssima mania de ser otimista.

No meu mundo-cor-de-rosa, quando algo dá errado ou a gente resolve ou é porque tinha de dar errado. Quando, por exemplo, um casal não fica junto é porque não queria mais. E uma fadinha morre sempre que um amor se desfaz neste lugar só meu. Ok! Sei que sonho muito e vivo tipo uma Lisbela. D’accord!

Mas na maldita realidade paulistana, vejam só, as pessoas são fracas. As pessoas, no mundo de verdade, coitadas, elas se drogam, se prostituem e são covardes. Por quê? Não dá para ver a estupidez disso tudo? E eu, daqui do meu céu coloridinho fico com raiva e com pena. Com muita pena.

E eu conheço pessoas na realidade paulistana. E eu não posso fazer nada pra ajudar os pobres seres humanos fraquinhos que não têm estrutura para mudar de mundo. Não gosto do sentimento de impotência, porque ela definitivamente não faz parte do meu universo. E quando ela bate na minha cara, é muito triste.

Eu vi um humano tão fraco no sábado e eu não fiz nada para ajudá-lo. Podia ter batido na cara dele, acho que ajudaria. Faria o que pudesse para ajudar, mas é preciso que a pessoa queira ser ajudada. Fico pensando, o que eu realmente posso fazer? Eu também sou humana, cheia de defeitos e fraquezas.

Ver o mundo que vi no sábado, tão cheio de coisas que fazem mal para o corpo e também para a alma e ver aquelas pessoas tão sofridas (sem sequer saber que estão sofrendo) doeu muito.

Como eu queria contaminar o mundo gris com meu céu cor-de-rosa. Mas quem já viu rosa acinzentado? Não existe. Resta-me ficar aqui com minha mania de Lisbela no país do concreto.

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