Luisa na cidade do impossível

27 de janeiro de 2011


Cheguei em casa para escrever um texto completamente diferente, mas lembrei de um sonho antigo. Quando menina sempre quis ter um castelo. Lembro de falar disso com meus pais e irmã. Era um dos meus sonhos mais fortes. Nunca quis um príncipe num palácio, eu queria era um castelo para fazer um hotel de luxo.

Lembro até de um diálogo: Não, não quero que um príncipe me dê um castelo, quero comprar um pra mim! A realidade era sempre: “Faz ideia do preço de um castelo?” No que respondia sem titubear: Serei rica.

Hoje ainda não tenho muita noção de quanto custa um castelo, mas acho que com a profissão que escolhi, no máximo, depois dos 50 anos consigo comprar uma pousadinha mixuruca em Cabo Frio.

Aqui entre nós, príncipes são chatos. Eles são clichê demais para uma menina (ou uma geração?) que queria ter um negócio lucrativo desde os sete anos e cuja personagem favorita era Alice no país das maravilhas.

É, confesso, não era muito fã da boring cinderela que ficava lá a espera de um príncipe para salvá-la (gente, tem de ser mais proativa, alô!) ou da vagal da bela adormecida que preferia tirar uma soneca a aproveitar a vida. E a Jasmine comunista a la Stalin? A menina tinha muito preconceito com gente rica, mas morava no maior bem-bom. Assim até eu. Ah! Não vou nem falar da nerd da Branca de Neve que só tinha amigo bicho até os anões ficarem com pena, né? A burrinha ainda aceitou comida de estranhos, tão amadora...


Jasmine, minha primeira decepção com comunistas...

Heroína mesmo é uma moleca que vai atrás do que quer (um coelho branco?), tem como guru uma lagarta, quase cai na lábia de um gato safado, fica amiga de uns pancadas que tomam chá e em busca de seu sonho briga até com uma rainha louca. Pra completar ainda se apaixona por um chapeleiro maluco. Isso é que ser ousada.

Ué! Sabe que agora entendi meu gosto por homens esquisitos? Nada como autoanálise.

Mas, voltando ao assunto anterior, alguém aí tem um castelo sobrando? Aceito doações. Mas não vale de cartas, hein?




Trailer do filme original (em inglês).

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Bem-me-quer

26 de janeiro de 2011


Eu gosto de você. Calma! Gosto de você só um pouco. Na nossa geração gostar demais é cafona, chato, sem graça. Não gosto muito da nossa geração. Mas gosto de você. Acho que é porque você não me cobra explicações, aparece sem espinhos, some quando sabe que estou prestes a me apaixonar. Você não é tolo para me deixar apaixonada. Estragaria tudo, não é mesmo?

Gosto de você porque existe sempre aquela tensão sexual, aquela promessa velada de noite libertina. Gosto de você porque você gosta do jogo, não faz esforço, não se importa demais, mas está sempre por ali, meio mineirinho, mesmo sem ser da terra de Juscelino.

Eu adoro como você fica com ciúmes dos outros caras quando eles dão em cima de mim. Gosto ainda mais quando você disfarça o desconforto, adoro provocá-lo. Sim, sou um pouco sádica. Mas veja, não temos absolutamente nada, como pode se chatear com isso? Não é você avesso a compromissos? Mas quem precisa de rótulos? É uma escolha nossa. Ironia existir um nós nesse caso, não? Adoro isso. Rio quando meus amigos dizem: “Quem? Aquele cara? Ele é louco por você. Tá na cara.”

Você é louco por mim, eu gosto disso. Adoro o fato de você não querer aceitar isso. Você sempre me faz dar boas risadas. Sabe, acho você engraçado. Gosto de você não conseguir se afastar o suficiente para me esquecer. Eu não quero mesmo que você me esqueça. Eu quero você completamente apaixonado por mim. Sim, sou ambiciosa. Que mulher não quer um homem bonito, solteiro e bem-sucedido aos seus pés? Eu quero. Provoco. Preciso. Gosto. É uma questão de ego, claro. Tenho só uma quedinha (e olhe lá!) por você, já disse.

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Por uma loja a menos em São Paulo

7 de janeiro de 2011



A notícia do fechamento do Belas Artes me balançou. Se eu tinha um traço paulistano, ele estava vinculado a este cinema. Ali descobri minha paixão pela sétima arte. Para mim e muitos paulistanos aquele é um pedaço da história da cidade.

Soube que o estabelecimento é alugado e aparentemente o dono do imóvel quer o espaço de volta para montar uma reles loja. Parece surreal pensar nisso. Depois de 68 anos, ali é um espaço alugado? O locatário não percebe o quanto o cinema é histórico e valioso? Sou contra pessoas que não se preocupam com a história. Imaginem quantas pessoas tiveram momentos de vida únicos naquele prédio com constante odor de pipoca amanteigada. Só eu tive vários.



Por exemplo, lembro bem de uma briga séria lá no segundo andar. Na hora olhei pela janela e vi algumas pessoas dançando do outro lado da rua. Pensei como preferia estar naquela aula de tango. Sentei no banco de mosaico preto, estava gelado. Chorei. Eu ainda nem morava em São Paulo, mas ali começava minha relação com o mais paulistas dos cinemas de rua. Já assisti a tantos filmes naquele lugar, posso me considerar um pouco mais culta por causa dele.

No Belas Artes tomei coragem de assistir um filme sozinha pela primeira vez e para minha surpresa, no meio da sessão, fiz uma amiga. Era uma senhorinha chocada com a animação que passava na tela. Ela precisava desabafar. Eu defendi o desenho. Demos algumas risadas juntas. Não consigo lembrar o nome do filme, mas contava a história de uma Branca de Neve cansada do abusado príncipe encantado. Ao final, a vovozinha me deu dicas sobre cinemas paulistanos, dicas usadas até hoje.

Naquele cinema marquei um encontro com uma das maiores e mais rápidas paixões da minha vida. Era nosso segundo filme juntos. Eu estava muito nervosa, com o pensamento tolo de que ele talvez não gostasse de mim. Naquele momento ainda não tínhamos nada, só a paixão. No meio da sessão, a barriga dele começou a fazer muito barulho. Eu fiquei tão desesperada, achei que o coitado estava com algum sério problema intestinal. Nosso encontro tinha fracassado. Eu não iria fazer mais nada com uma pessoa cuja barriga se comunicava daquela maneira. Só muito tempo depois entendi. Ele estava ainda mais nervoso que eu.

Também no Belas Artes cheguei a um dos momentos mais patéticos da minha vida. Resolvi ir ao cinema depois de um dia de trabalho. Mas saí correndo da fila ao ver esse mesmo homem, meses após o nosso rompimento. Depois de perceber quão ridícula era minha atitude decidi voltar e ele não estava mais ali. Agradeci. Achei bem digno da parte dele desaparecer naquele dia depois de ter desaparecido da minha vida sem a menor explicação.


Trailer Coco antes de Chanel


No mesmo dia, resolvi ver o filme da Chanel para relaxar e eis que um cruel colega de faculdade (com sua respectiva namorada) me encontra e diz: “Nossa! Você vem ao cinema sozinha? Estranho! Não tinha nenhuma amiga para chamar?” Educado como uma porta o cara.

Sabe, é engraçada minha relação com aquelas salas. Villa-Lobos, Carmem Miranda... Aqui só estou contado os causos de amor. Mas tenho outros. E quando achava que minha história amorosa com o cinema tinha acabado, recebo um convite casual para assistir um filme do Scorsese em uma tarde de um sábado pouco importante. O filme é tão bom e chocante, fiquei fora de órbita por uma meia hora depois dele. E com uma pessoa completamente inesperada na minha vida, aquela foi uma das melhores sessões que o Bela me proporcionou. Até rendeu um texto publicado aqui.


Trailer "Ilha do medo"


Pensar que tudo isso e tantas outras ótimas histórias vão virar uma loja... Hoje eu queria ter nascido paulistana só para ter um milhão de outros contos meus sobre o moribundo cinema e seus 68 anos. Ao menos teria aproveitado mais o lugar.

De verdade, eu não quero ir ao mega blox 3D de um shopping. Eu quero o Belas Artes. Quero ver outros filmes do Alain Resnais lá! Quero a bossa paulistana com direito a cine clube. Adoro o lugar. Gosto mais de lá que do Ibirapuera e do Conjunto Nacional. Mais até que da Paulista ou da Praça Benedito Calixto. Ouso dizer, acho o Belas Artes mais paulistano que o pico do Jaraguá.

Por favor, é um apelo dramático e talvez impossível... Não fechem o Belas Artes. Proprietário, não abra uma loja ali. Não aborte histórias de amor nascidas na Cândido Portinari ou na Mário de Andrade.

Olha a minha sugestão: os apaixonados pelo Belas Artes dão uma quantia (não muito grande) de dinheiro. Dividimos o cinema por metros quadrados. Fazemos cotas ou lotes dos metros e todos seremos donos. Assim compramos o espaço do insensível. Isto é, ele precisa querer vender. Mas diz a máxima: todo homem tem seu preço. Depois doamos o prédio ao cinema e pronto! Mas antes, tombamos o lugar como patrimônio cultural de São Paulo e do Brasil. Falamos com o IPHAN! Vamos salvar o mais charmoso dos (poucos) cinemas de rua da cidade.

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