Um sonho possível

29 de agosto de 2011

Você já teve um sonho? Já achou que ele era bobo? Impossível?


Eu já.

Eu tenho um sonho. O mesmo sonho desde os 13 anos de idade. Um desejo guardado em um canto da minha mente, latente. Isso porque já tinha brigado muito com ele, dizendo-o para desaparecer. É que aos 19 anos lutei por ele, lutei o máximo que pude. Fracassei. Por isso pensei em desistir. Mas sonhos são persistentes, dê-lhes um punhado de atenção e eles voltam a brilhar na sua imaginação.

Outro dia ouvi o clichê: se você desejar do fundo do coração, o sonho se realiza. Desde então fiz as pazes com o meu. Resolvi investir nele. Logo depois surgiu uma oportunidade de realizá-lo. Tomei coragem (embora tivesse medo de fracassar) e decidi agarra-lá. Funcionou. O curioso é que estou super assustada. Sonhei tanto. Nem parece possível que ele possa se tornar real.

Mas dessa vez estou pronta. Que venha! Com o choque de realidade que todo sonho vem quando se concretiza. Que seja melhor que qualquer expectativa.

Um sonho doce como canela recém raspada. Se você tem um, invista sua energia nele, não importa o tempo demore.

Caso você já tenha desistido de sonhar, eu lhe pergunto: de que vale a vida se a gente não tenta realizar nossos sonhos?


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A democracia do vento

20 de agosto de 2011

O vento que sopra fresco nesta tarde de agosto me conforta. Parece que vem me dizer alguma coisa, tirar um véu de ilusão de cima dos meus olhos.

Deixo-me envolver. Os pássaros cantam na cidade do impossível, a tarde cai amena para minimizar a melancolia que me cerca, mas não me pertence. Pode um simples vento mudar um humor? Ora, o vento muda direções de barcos, semeia plantas ao redor do mundo, carrega cidades com seus furacões. É claro que um simples humor, o Senhor Vento tem categoria para mudar.

Esboço um sorriso. O curioso é que o vento pode levar também os nossos desejos. É comum eu aproveitar o vento para mandar uma mensagem de amor. Já tentou? Mando com a certeza de que quando o vento lá bater, vai fazer a pessoa lembrar de mim. Gosto de imaginar a cena da pessoa sentido a brisa suave no rosto.

O vento é tão democrático. Tente prendê-lo em sua mãos e ele se esvai. Mas deixe ele livre e veja que está ali, soprando. Que coisa mais gostosa uma brisa no fim da tarde a beira-mar. Qualquer um pode sentir.

Sabe o que eu mais gosto no vento? É que o mesmo vento que forma tempestades, dissipa as nuvens pouco a pouco. Quando se vê, já temos de novo o sol.

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Doce Leitura

8 de julho de 2011

Foto: Simone de Beauvoir


Estes dias entrei em uma livraria super charmosa que cheirava a café. Na porta tinha uma plaquinha que dizia: Só abrimos depois do meio dia! Depois da meia noite, a gente brinca. Achei curioso. Entrei. Procurei os donos da loja para saber o significado daquela placa. Não estavam lá. Resolvi passear pelas letras.

O lugar todo tem paredes pintadas com gravuras de escritores. Tão lindo! Estantes e mais estantes de literatura brasileira com o semblante de Dom Machado de Assis. Sir Shakespeare faz as honras da seção de livros em inglês. Simone de Beauvoir, muito bem comportada, está pintada para me mostrar o maravilhoso mundo de Alexandre Dumas, Stendhal e outros autores franceses. A lânguida Florbela Espanca divide com Saramago o espaço que dá acesso aos portugueses.


Mas o que chamou a minha atenção mesmo foi uma estante reservada a novos escritores. Nossa! Sempre quis uma seção com escritores novos em uma livraria, já pensou se eu fosse uma das primeiras a ler o próximo Nobel de literatura? É como conhecer uma banda de sucesso quando ela ainda está na garagem! Livros raros? Ali também tem. Matemática, direito, comunicação, tecnologia, tudo. Dicionários! Até um espaço para fazer download de e-books! Você pode levar o computador ou receber as instruções de como baixar o livro por e-mail, a preços módicos.


Caso tenha fome, ao lado da parte de culinária e gastronomia, tem uma cafeteria de fazer qualquer um babar. Uma mistura de doces internacionais com café nordestino. Mas como sou um clichê ambulante, pedi um pão de queijo bem mineirinho! Humm!

Claro que fiquei louca para saber quem eram os donos daquele lugar angelical, com um astral tão sublime que me fazia suspirar. Sou que os donos estão em Alexandria negociando livros para a parte dos raros. A gerente disse que eles são apaixonados por livros, excêntricos, gostam de reunir pelo menos uma vez por semana um grupo de crianças para contar historias. Eles têm até um site para o clube do livro. Ela disse que a maior adesão é dos jovens, eles gostam dos livros virtuais.

Antes de ir embora, lembrei da placa na porta. Que significa? Perguntei. A gerente sorriu. "Eles detestam acordar cedo. Mas em compensação, aqui funciona até as 2 da madrugada. Depois da meia noite, isso aqui é quase uma balada. O dono alega que é de noite que a magia de escrever floresce". Disse também que muitos escritores novos se reúnem ali, é um lugar de boemia, de polêmica, de alegria e, essencialmente, de cultura.

Dá pra não se apaixonar por um lugar assim? O nome da livraria? Doce leitura. Um dia eu digo onde fica.

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Estação Verão

7 de julho de 2011

Verão em Japaratinga/AL

Idade da paixão: 5 anos. Suspiros.
Suspiros e raspas de limão. Azedo e doce como briga de criança.
O amigo do meu primo. Um chato. Roubava os suspiros que me fazia a madrinha.

Idade da descoberta: 16 anos. Fotos
Fotos espalhadas no mural do primo.

—Quem é esse seu amigo lindo?

“Este é aquele meu amigo que você detestava quando era criança.“

—Não lembro. Pode me apresentar para ele de novo?

“Claro que lembra. Ele roubava seus suspiros. E não posso, ele tem namorada.”

Idade do encontro: 18 anos. Literatura.

“Preciso ensinar literatura para um amigo. Pode me ajudar?”

¬—Claro! Posso ir assim?
“Para mim está ótimo!”

Perco o fôlego. Estava vestida como uma louca. Casaco que cabia duas de mim. Cabelo completamente indomado. Nenhuma maquiagem. Nem mesmo um gloss.
Foi amor a primeira vista.

—Vamos namorar?
Uma primavera chamada Verão.

Idade da estupidez: 19 anos. Medo.
Quem não tem medo?

—Namoro a distância não dá certo. Chega. Eu aqui, você aí. Isso não pode funcionar.

—Eu te amo o suficiente.

—Não é justo com nenhum dos dois. É uma relação impossível. Acabou.

— Não faça isso...

—É o melhor a fazer. Tchau!

—Covarde

Idade do arrependimento: 21 anos. Declaração.

Espaço Unibanco
— Suspiro. Quanto tempo!


Este e-mail é para dizer que desde aquele encontro no cinema, não paro de pensar em você. Não posso ser estúpida de novo. Eu preciso dizer que não o esqueci.

— Sinto muito. Só posso ser seu amigo!

Idade do recomeço: 24 anos. Inverno.
Dias triste. Conversas longas. Morte. Vida. Espiritualidade.

—Estou solteira.
—Estou infeliz na relação.
— Termine.
—Amo minha namorada.
—Entendo.
—Você sabia que me magoou demais?
—Desculpa. Já disse antes, nunca esqueci você.
—Isso é carência. Só fala porque está solteira em uma cidade louca.
—Não é, embora isso seja verdade.
—Você só me procura quando estou namorando.
— Admita que também gosta de mim.
—Convencida.
— Admita!
—Já disse, tenho namorada!
—Não tenho pressa.

Idade do reencontro: 25 anos. Suspiro.
— Estou muito triste. Está tudo errado na minha vida.

—Não fique assim. Vamos! Não pode ser tão ruim. Eu quero encontrar você.
—Quando vier ao Rio, avise.

Avisei. Minhas mãos tremeram. Virei adolescente de novo? Borboletas e mais borboletas, todas loucas, debatendo-se dentro de mim. Não consegui falar nada do que queria. Aliás, eu mal falei. Só consegui suspirar.

Mas, afinal, o Sr. Verão sempre me roubou suspiros.

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Alma fria

4 de julho de 2011

Um azulejo em Barcelona...

A cidade de São Paulo está em alerta por causa do frio. Nove graus Celsius. Parece quente para quem, como eu, já enfrentou - 15 °C na França, ou para quem passa o inverno em Nova York, mas é bem frio para quem está na rua agora sem um agasalho.

É um gelo para quem não tem uma sopa para tomar, uma mantinha gostosa para se embrulhar, bem alarmante para quem só tem uma caixa de papelão onde se deitar. Nessas horas fico triste. Porque eu tenho mais de um edredom fofo, mais de uma casa para dormir aquecida e definitivamente tenho bem mais que um chá para tomar. Sinto culpa. Todo mundo deveria ter uma casa com uma cama quente e um pouco de conforto. Um pouco de dignidade.

São Paulo devia ficar em alerta o ano inteiro, alerta aos muitos que dormem na Haddock Lobo, Teodoro Sampaio, Faria Lima. Outro dia vi um homem deitado na rua, com uma muleta ao lado, achei que ele tivesse caído e perguntei: “O senhor está bem?” Ele me respondeu com um sorriso enorme e um olhar de surpresa: “Estou! E você?” A resposta me doeu. Doeu porque vi nos olhos dele que as pessoas passam ali, mas ninguém conversa com ele.

A cidade devia entrar em alerta também quando faz 30°C, tamanha a frieza das pessoas para seus semelhantes. A cidade só não, o mundo. Você já conversou alguma vez com um mendigo? Já olhou os olhos dele? Aquela tristeza no olhar pode ser solidão. Olhos que pedem um pouco de atenção. Ou o medo de ser assaltado, de perder seu mais novo tablet o paralisa? Pare de fingir que essa situação não faz parte do seu mundo. Virar a cara e entrar na internet não tirará as pessoas da miséria.

Devia haver uma lei que impedisse uma disparidade tão grande. Em uma mesma cidade há centros comerciais em que sequer é possível entrar sem carro, assim como há pessoas que não têm dinheiro para pegar um ônibus. Parece impossível.

É pedir demais que exista sensibilidade de quem não passa frio? De quem não passa dificuldade e pode andar pelas ruas com seu celular conectado e seu carro zero km? Sugestão para a próxima vez que vir alguém na rua: sorria para a pessoa. Todo ser humano precisa de um sorriso. Já é bem melhor do que ver sua cara de raiva só porque ele (ou ela) tentou falar com você.

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Largo das tulipas

12 de junho de 2011

Foto: Luisa Picanço/Holanda

Alguma pessoa já fez você pensar em mudar o mundo? Alguém já fez você achar que o amor existe? Nem que seja por um minuto, já passou pela sua cabeça “eu amo essa pessoa”?

Então, sinta essa vibração. Ela é boa. Move mesmo o mundo. Ainda bem, nosso planeta precisa desse movimento. Let it come. Perceba que o amor tem cheiro de colégio. Da hora do recreio, com seus pães de queijo macios. Amor é toujours adolescente. Cheio de bons sentimentos, sem muitos medos arraigados, sem arranhões n’alma.

Amor nos remete a Shakespeare e todas as suas mil e uma noites de verão. Espanta bicho-papão, mau olhado. É um pé de arruda. Nada de ruim o afeta quando você deixa o amor comandar. Faz até a gente esquecer os problemas profissionais. Afinal, aquilo é só um trabalho, não é sua vida.

Deixe vir. De repente sua vida vai ficar mais colorida. Você vai andar pelo largo da batata e achar que todo mundo que passa por ali merecia um largo das tulipas. Já pensou? Tulipas por todos os lados, deixando São Paulo menos gris. Essa época do ano é particularmente boa para o amor. O outono da cidade conforta esse sentimento tão puro e transformador. O sopro frio do fim do dia aquece os desejos. Quer coisa melhor que chegar em casa e receber um abraço do ser amado?

E, se no abraço, você perceber que definitivamente já conhece aquela pessoa de outras vidas, não hesite. Só lhe resta deixar a mágica fluir. Por favor! É diretamente proporcional. Quanto mais amor, mais tulipas. O planeta merece.

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Reencontro

28 de março de 2011

Uma das melhores (e piores) atitudes da vida é ser autêntica. Doa a quem doer (costuma doer mais no ser autêntico), a autenticidade é libertadora. Ainda que agir assim não lhe deixe mais seguro do dia de amanhã, certamente fará diferença neste amanhã você não ter sido falso hoje.

Como faz diferença não ser falso com você mesmo. Só tenha cuidado para não machucar os outros no caminho. O ideal é ser verdadeiro sem ser agressivo. Achar este equilíbrio traz paz de espírito. É algo digno do que ensinou o poeta:

“Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.” (Fernando Pessoa/ Para ser grande)


Hoje reencontrei uma moça grande. Em São Paulo ela se perdeu de mim, mas ela nunca deixou de ser autêntica, destemida. Gosto tanto dela. Foi uma grata surpresa revê-la debaixo de um bloco em Brasília. Estava com saudades. E eu que achava que tinha perdido essa moça para sempre.

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Um vício para chamar de meu

23 de março de 2011



Tudo começou quando cheguei a São Paulo. Em qualquer lugar que eu ia alguém me oferecia. Era até ostensivo. Estava por toda parte. Comecei a pensar esporadicamente na ideia, mas depois o pensamento cresceu, não queria mais sair da minha cabeça. Comecei a ignorar a oferta tentadora. Neguei o quanto pude. Achei que assim poderia me livrar. Sabia que aquele era um caminho provavelmente sem volta.

Toda vez que tinha vontade de usar, mudava de pensamento. Procurei alternativas. Não conseguia mais evitar. Resolvi parar de me preocupar com o pensar, era só esquecer o assunto e não teria mais problemas.

Eis que em um domingo qualquer, quando estava prestes a pedir o meu já tradicional Mocha Branco, soltei um “meu!”, assim sem pensar. Fiquei desesperada, pus a mão à boca. Comentei com uma amiga que era a primeira vez que usava aquela viciante gíria paulistana. Ela exclamou: “Seu primeiro meu? Parabéns! Dá aqui um abraço.”

Fiquei sem graça. Afinal, falar “meu” é feio. Aliás, horroroso é mais apropriado. Não vejo como isso merece congratulação. Só falei uma vez, juro! Mas maculei minha alma carioca, sei. É que isso vicia. Em minha defesa alego que há mais de dois anos sou obrigada a ouvir essa gíria diariamente.

Enfim, agora posso me considerar nativa na língua paulistana, meu! Hoje mesmo falei que ia almoçar um lanche. Essa praga que os paulistanos usam para definir sanduíche também saiu sem pensar, o que só piora para o meu lado. Acho que não tenho mais salvação. Paciência.

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Ciao Belas!

18 de março de 2011

Parece impossível, mas acabou. Não terei mais pipocas com essência de manteiga, nem aulas de dança vistas da janela. Hoje fui à última sessão do Belas Artes. O clima de Adeus era visível.

Ao chegar às 21h20, só tinha lugar para ver a comédia “No tempo do Onça”(EUA, Charles Riesner - 1940). Fiquei feliz de ainda ter ingressos à venda. Mas na verdade queria muito assitir o filme “O joelho de Claire” (França, Eric Rohmer - 1970) porque a película já tinha um significado especial para mim. O filme francês passaria na sala 4 – Aleijadinho. Tomei coragem e pedi na cara de pau para entrar. Consegui. Foi até fácil. Acho que foi meu charme carioca ou a complacência do moço da entrada, ele sabia que aquela era uma despedida.

O fato é que a partir de hoje um pedacinho do que eu e tantas outras pessoas vivemos em São Paulo é passado. Sabe o que o Totó sente quando vê que o cinema Paradiso não existe mais? Acho que finalmente entendi.

Dei adeus ao Belas Artes, torço para que seja um breve até logo. Pelo menos posso dizer que já faço parte da história da cidade do impossível.


Trailer do filme Nuovo Cinema Paradiso (Itália, Giuseppe Tornatore - 1988) Um dos melhores filmes que já vi

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Confete paulistano

9 de março de 2011

Carnaval de Arlequim - Joan Miró

A pipa do vovô não é mais a mesma. Nem o carnaval paulistano. Enquanto escrevo esse texto, tem um monte de foliões aqui embaixo. Estou no coração da cidade do impossível e amanhã é quarta-feira de cinzas. Quase todo mundo vai trabalhar. Mas e daí? Quem diz que em São Paulo não tem carnaval certamente não conhece essa cidade.

São Paulo tem muita folia sim. Se você ficou por aqui e não aproveitou as festas, admita, foi porque não quis. É isso mesmo. Assim como o vovô moderno hoje pode tomar um remedinho da felicidade e alegrar a vovó nos dias de feriado, foi-se o tempo em que você não poderia curtir um sambinha na cidade do impossível. Em 211, você poderia ir atrás do bloco do Minhocão (que não tem nada a ver com a pipa do vovô, hein?) ou poderia ir à Praça Benedito Calixto. essa praça anda mais lotada que nos dias de feira! Isso sem falar do Carnaval da Vila, o bloco da Alameda Santos e outros tantos.

Calma! Não vou falar de todas as possibilidades que você perdeu por aqui. E antes de me xingar por só postar esse texto hoje, deixo algumas dicas da ressaca do carnaval. Ainda dá pra aproveitar:

Na quinta, de acordo com o R7, tem a ressaca paulistana no Camarote da Brahma no Anhembi.

Na próxima sexta, tem o desfile das campeãs, também no Anhembi. Fui ano passado, é bem animado! Os ingressos você pode comprar no ingressofacil.com. A Folha tem uma matéria sobre o assunto.

O Bar Brahma também é sempre uma boa pedida de samba na cidade, mas prepare o bolso, não é muito barato. Que tal no próximo sábado? A Vai-Vai toca lá 2h da manhã e antes disso tem Baile de Carnaval. Dá uma olhada no site.

Se ainda estiver no pique, tem Gambiarra no domingo dia 13 – essa festa super animada sempre tem um clima de carnaval. Quem já foi sabe do que falo. http://www.gambiarraafesta.com.br/

Quantas vezes não ouvi “Carnaval em São Paulo? Impossível!” Provado que isso não passa de uma lenda! Mas vamos combinar, de todas as marchinhas de carnaval, a que mais combina com o espírito da cidade é sem dúvida: “Ei, você aí! Me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí! :)

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Procura-se um namorado

15 de fevereiro de 2011

Precisa ser bem carinhoso, de preferência à moda antiga. Pode levar flores quando quiser. Cartinhas de amor são indispensáveis. Tem de adorar poesia. Ah! Não pode escorregar no português. Há de ser castiço como o do Maranhão. Aliás, precisa adorar conversar. E não pode ser nem um pouco fofoqueiro.


Foto de Henry Cartier Bresson

Romantismo é indispensável. Serenatas estão liberadas. O pretendente mora em Copacabana? Melhor ainda. Ela também. Mas aceita paulista, alagoano, mineiro, gaúcho. Até estrangeiro! Desde que seja carinhoso. Gostar de viajar é um diferencial. Faz-se necessário que ele aprecie passear de mão dada na praia. Cai bem adorar sol, festa, alegria. Gente deprimida? Nem apresente!

Quem procura? Uma senhora de 77 anos, cadeirante, viúva, moradora da Rua Inhangá. O brilho nos olhos dela e sua vontade de viver inspiram qualquer um. É cheirosa, está sempre com as unhas pintadas, muito vaidosa. É bonita, adora música brasileira e tem uma leve tendência socialista (coitada!).

É uma lição de vida. Uma senhorinha que não se importa com as próprias rugas ou com a dificuldade de locomoção. Nada disso é limitação. Bem diferente de certos jovens, encanados com suas espinhas na cara ou com seu corpo um, pouco diferente do da modelo da revista.

Não é mesmo divino pensar que o amor não tem nada a ver com idade ou tipo físico? Amar é simplesmente escolher. Essa vovó escolheu que podia ter um namorado, amar de novo. Não importa mais nada. Importa? Quem conhecer um pretendente, favor avise.

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Luisa na cidade do impossível

27 de janeiro de 2011


Cheguei em casa para escrever um texto completamente diferente, mas lembrei de um sonho antigo. Quando menina sempre quis ter um castelo. Lembro de falar disso com meus pais e irmã. Era um dos meus sonhos mais fortes. Nunca quis um príncipe num palácio, eu queria era um castelo para fazer um hotel de luxo.

Lembro até de um diálogo: Não, não quero que um príncipe me dê um castelo, quero comprar um pra mim! A realidade era sempre: “Faz ideia do preço de um castelo?” No que respondia sem titubear: Serei rica.

Hoje ainda não tenho muita noção de quanto custa um castelo, mas acho que com a profissão que escolhi, no máximo, depois dos 50 anos consigo comprar uma pousadinha mixuruca em Cabo Frio.

Aqui entre nós, príncipes são chatos. Eles são clichê demais para uma menina (ou uma geração?) que queria ter um negócio lucrativo desde os sete anos e cuja personagem favorita era Alice no país das maravilhas.

É, confesso, não era muito fã da boring cinderela que ficava lá a espera de um príncipe para salvá-la (gente, tem de ser mais proativa, alô!) ou da vagal da bela adormecida que preferia tirar uma soneca a aproveitar a vida. E a Jasmine comunista a la Stalin? A menina tinha muito preconceito com gente rica, mas morava no maior bem-bom. Assim até eu. Ah! Não vou nem falar da nerd da Branca de Neve que só tinha amigo bicho até os anões ficarem com pena, né? A burrinha ainda aceitou comida de estranhos, tão amadora...


Jasmine, minha primeira decepção com comunistas...

Heroína mesmo é uma moleca que vai atrás do que quer (um coelho branco?), tem como guru uma lagarta, quase cai na lábia de um gato safado, fica amiga de uns pancadas que tomam chá e em busca de seu sonho briga até com uma rainha louca. Pra completar ainda se apaixona por um chapeleiro maluco. Isso é que ser ousada.

Ué! Sabe que agora entendi meu gosto por homens esquisitos? Nada como autoanálise.

Mas, voltando ao assunto anterior, alguém aí tem um castelo sobrando? Aceito doações. Mas não vale de cartas, hein?




Trailer do filme original (em inglês).

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Bem-me-quer

26 de janeiro de 2011


Eu gosto de você. Calma! Gosto de você só um pouco. Na nossa geração gostar demais é cafona, chato, sem graça. Não gosto muito da nossa geração. Mas gosto de você. Acho que é porque você não me cobra explicações, aparece sem espinhos, some quando sabe que estou prestes a me apaixonar. Você não é tolo para me deixar apaixonada. Estragaria tudo, não é mesmo?

Gosto de você porque existe sempre aquela tensão sexual, aquela promessa velada de noite libertina. Gosto de você porque você gosta do jogo, não faz esforço, não se importa demais, mas está sempre por ali, meio mineirinho, mesmo sem ser da terra de Juscelino.

Eu adoro como você fica com ciúmes dos outros caras quando eles dão em cima de mim. Gosto ainda mais quando você disfarça o desconforto, adoro provocá-lo. Sim, sou um pouco sádica. Mas veja, não temos absolutamente nada, como pode se chatear com isso? Não é você avesso a compromissos? Mas quem precisa de rótulos? É uma escolha nossa. Ironia existir um nós nesse caso, não? Adoro isso. Rio quando meus amigos dizem: “Quem? Aquele cara? Ele é louco por você. Tá na cara.”

Você é louco por mim, eu gosto disso. Adoro o fato de você não querer aceitar isso. Você sempre me faz dar boas risadas. Sabe, acho você engraçado. Gosto de você não conseguir se afastar o suficiente para me esquecer. Eu não quero mesmo que você me esqueça. Eu quero você completamente apaixonado por mim. Sim, sou ambiciosa. Que mulher não quer um homem bonito, solteiro e bem-sucedido aos seus pés? Eu quero. Provoco. Preciso. Gosto. É uma questão de ego, claro. Tenho só uma quedinha (e olhe lá!) por você, já disse.

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Por uma loja a menos em São Paulo

7 de janeiro de 2011



A notícia do fechamento do Belas Artes me balançou. Se eu tinha um traço paulistano, ele estava vinculado a este cinema. Ali descobri minha paixão pela sétima arte. Para mim e muitos paulistanos aquele é um pedaço da história da cidade.

Soube que o estabelecimento é alugado e aparentemente o dono do imóvel quer o espaço de volta para montar uma reles loja. Parece surreal pensar nisso. Depois de 68 anos, ali é um espaço alugado? O locatário não percebe o quanto o cinema é histórico e valioso? Sou contra pessoas que não se preocupam com a história. Imaginem quantas pessoas tiveram momentos de vida únicos naquele prédio com constante odor de pipoca amanteigada. Só eu tive vários.



Por exemplo, lembro bem de uma briga séria lá no segundo andar. Na hora olhei pela janela e vi algumas pessoas dançando do outro lado da rua. Pensei como preferia estar naquela aula de tango. Sentei no banco de mosaico preto, estava gelado. Chorei. Eu ainda nem morava em São Paulo, mas ali começava minha relação com o mais paulistas dos cinemas de rua. Já assisti a tantos filmes naquele lugar, posso me considerar um pouco mais culta por causa dele.

No Belas Artes tomei coragem de assistir um filme sozinha pela primeira vez e para minha surpresa, no meio da sessão, fiz uma amiga. Era uma senhorinha chocada com a animação que passava na tela. Ela precisava desabafar. Eu defendi o desenho. Demos algumas risadas juntas. Não consigo lembrar o nome do filme, mas contava a história de uma Branca de Neve cansada do abusado príncipe encantado. Ao final, a vovozinha me deu dicas sobre cinemas paulistanos, dicas usadas até hoje.

Naquele cinema marquei um encontro com uma das maiores e mais rápidas paixões da minha vida. Era nosso segundo filme juntos. Eu estava muito nervosa, com o pensamento tolo de que ele talvez não gostasse de mim. Naquele momento ainda não tínhamos nada, só a paixão. No meio da sessão, a barriga dele começou a fazer muito barulho. Eu fiquei tão desesperada, achei que o coitado estava com algum sério problema intestinal. Nosso encontro tinha fracassado. Eu não iria fazer mais nada com uma pessoa cuja barriga se comunicava daquela maneira. Só muito tempo depois entendi. Ele estava ainda mais nervoso que eu.

Também no Belas Artes cheguei a um dos momentos mais patéticos da minha vida. Resolvi ir ao cinema depois de um dia de trabalho. Mas saí correndo da fila ao ver esse mesmo homem, meses após o nosso rompimento. Depois de perceber quão ridícula era minha atitude decidi voltar e ele não estava mais ali. Agradeci. Achei bem digno da parte dele desaparecer naquele dia depois de ter desaparecido da minha vida sem a menor explicação.


Trailer Coco antes de Chanel


No mesmo dia, resolvi ver o filme da Chanel para relaxar e eis que um cruel colega de faculdade (com sua respectiva namorada) me encontra e diz: “Nossa! Você vem ao cinema sozinha? Estranho! Não tinha nenhuma amiga para chamar?” Educado como uma porta o cara.

Sabe, é engraçada minha relação com aquelas salas. Villa-Lobos, Carmem Miranda... Aqui só estou contado os causos de amor. Mas tenho outros. E quando achava que minha história amorosa com o cinema tinha acabado, recebo um convite casual para assistir um filme do Scorsese em uma tarde de um sábado pouco importante. O filme é tão bom e chocante, fiquei fora de órbita por uma meia hora depois dele. E com uma pessoa completamente inesperada na minha vida, aquela foi uma das melhores sessões que o Bela me proporcionou. Até rendeu um texto publicado aqui.


Trailer "Ilha do medo"


Pensar que tudo isso e tantas outras ótimas histórias vão virar uma loja... Hoje eu queria ter nascido paulistana só para ter um milhão de outros contos meus sobre o moribundo cinema e seus 68 anos. Ao menos teria aproveitado mais o lugar.

De verdade, eu não quero ir ao mega blox 3D de um shopping. Eu quero o Belas Artes. Quero ver outros filmes do Alain Resnais lá! Quero a bossa paulistana com direito a cine clube. Adoro o lugar. Gosto mais de lá que do Ibirapuera e do Conjunto Nacional. Mais até que da Paulista ou da Praça Benedito Calixto. Ouso dizer, acho o Belas Artes mais paulistano que o pico do Jaraguá.

Por favor, é um apelo dramático e talvez impossível... Não fechem o Belas Artes. Proprietário, não abra uma loja ali. Não aborte histórias de amor nascidas na Cândido Portinari ou na Mário de Andrade.

Olha a minha sugestão: os apaixonados pelo Belas Artes dão uma quantia (não muito grande) de dinheiro. Dividimos o cinema por metros quadrados. Fazemos cotas ou lotes dos metros e todos seremos donos. Assim compramos o espaço do insensível. Isto é, ele precisa querer vender. Mas diz a máxima: todo homem tem seu preço. Depois doamos o prédio ao cinema e pronto! Mas antes, tombamos o lugar como patrimônio cultural de São Paulo e do Brasil. Falamos com o IPHAN! Vamos salvar o mais charmoso dos (poucos) cinemas de rua da cidade.

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