Alma fria

4 de julho de 2011

Um azulejo em Barcelona...

A cidade de São Paulo está em alerta por causa do frio. Nove graus Celsius. Parece quente para quem, como eu, já enfrentou - 15 °C na França, ou para quem passa o inverno em Nova York, mas é bem frio para quem está na rua agora sem um agasalho.

É um gelo para quem não tem uma sopa para tomar, uma mantinha gostosa para se embrulhar, bem alarmante para quem só tem uma caixa de papelão onde se deitar. Nessas horas fico triste. Porque eu tenho mais de um edredom fofo, mais de uma casa para dormir aquecida e definitivamente tenho bem mais que um chá para tomar. Sinto culpa. Todo mundo deveria ter uma casa com uma cama quente e um pouco de conforto. Um pouco de dignidade.

São Paulo devia ficar em alerta o ano inteiro, alerta aos muitos que dormem na Haddock Lobo, Teodoro Sampaio, Faria Lima. Outro dia vi um homem deitado na rua, com uma muleta ao lado, achei que ele tivesse caído e perguntei: “O senhor está bem?” Ele me respondeu com um sorriso enorme e um olhar de surpresa: “Estou! E você?” A resposta me doeu. Doeu porque vi nos olhos dele que as pessoas passam ali, mas ninguém conversa com ele.

A cidade devia entrar em alerta também quando faz 30°C, tamanha a frieza das pessoas para seus semelhantes. A cidade só não, o mundo. Você já conversou alguma vez com um mendigo? Já olhou os olhos dele? Aquela tristeza no olhar pode ser solidão. Olhos que pedem um pouco de atenção. Ou o medo de ser assaltado, de perder seu mais novo tablet o paralisa? Pare de fingir que essa situação não faz parte do seu mundo. Virar a cara e entrar na internet não tirará as pessoas da miséria.

Devia haver uma lei que impedisse uma disparidade tão grande. Em uma mesma cidade há centros comerciais em que sequer é possível entrar sem carro, assim como há pessoas que não têm dinheiro para pegar um ônibus. Parece impossível.

É pedir demais que exista sensibilidade de quem não passa frio? De quem não passa dificuldade e pode andar pelas ruas com seu celular conectado e seu carro zero km? Sugestão para a próxima vez que vir alguém na rua: sorria para a pessoa. Todo ser humano precisa de um sorriso. Já é bem melhor do que ver sua cara de raiva só porque ele (ou ela) tentou falar com você.

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