34ª Mostra de Cinema Internacional - 26/10/2010

27 de outubro de 2010

Ontem de noite na 34ª Mostra de Cinema Internacional assisti a dois filmes que falam sobre transtornos mentais. Abel (México 2010) e Mamma Gógó (Islândia 2010). Com temáticas parecidas, os filmes tratam de dramas familiares e os dois diretores têm relação pessoal com as histórias. A ironia de ver um após o outro é que o longa mexicano é bem menos “dramalhão” que o islandês. Abaixo a resenha de cada um.

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Los bigotes de un niño



Abel (2010) é o primeiro filme do ator mexicano Diego Luna. A relação entre mãe e filho da história é explorada pelo diretor que perdeu a mãe quando ainda era criança. Para refrescar sua memória Luna atuou em “Milk, a voz da liberdade” – 2008 e, ao lado de Gael García Bernal, em “E sua mãe também” – 2001. No atual Bernal também participa, dessa vez é produtor executivo com ninguém menos que John Malkovich.

A história contada é a do pequeno Abelardo (Christopher Ruíz-Esparza), garoto de 10anos que tem autismo. Depois de passar um bom tempo em um hospital psiquiátrico, ele volta para casa. Sua mãe Cecília (Karina Gidi) vive a difícil tarefa de cuidar da adolescente Selene e do pequeno Paul sozinha, já que o pai das crianças sumiu há dois anos. Nessa atmosfera pouco favorável, o menino vê para si um papel mais adequado que a de “filho problema”, ele passa a ser o homem da casa, dando ordens nos irmãos e dormindo na cama da mãe. Isso até o pai deles reaparecer, abalando a frágil estrutura familiar inventada por Abel.

Com cenas cômicas e a atuação excepcional de Karina Gidi, o enredo trata de um tema conhecido desde o clássico Ray Man (1988) de forma bem singular. O longa se passa em uma comunidade simples, mas nem por isso precisa apelar para a pobreza, ali, a aflição da mãe em cuidar do filho e o complexo de Édipo vivido pelo menino é que são os pontos fortes do filme. O ator mirim Christopher Ruíz-Esparza rouba a cena em muitos momentos como quando desenha “los bigotes” que faltam ao gato feito para a escola pelo irmãozinho Paul.

A fotografia do longa-metragem não chama muito a atenção, salvo uma ou outra cena como a da piscina. Os poucos silêncios da história são bem aproveitados e a trilha sonora é usada como pano de fundo, costurando todo o filme. Para quem tem interesse pelo tema e não pôde assistir durante a Mostra, espere sair no circuito alternativo, Abel tem forte traço psicológico, vale seu tempo e sua pipoca.

Trailer em espanhol (sem legendas)

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Um dramalhão islandês

Esperava mais de Mamma Gógó (2010), filme islandês autobiográfico de Fridrik Thor Fridriksson. O transtorno mental abordado no enredo é o mal de Alzheimer vivido por Gógó, mãe de duas mulheres e um diretor cinematográfico falido. Muito boa a atuação de Kristbjörg Kjeld na pele da personagem que apronta poucas e boas com seu filho cineasta. Mamma inunda a casa, embebeda o neto e conversa com o marido morto. Tudo graças à doença que carrega.

Apesar de ser sensível, em algum momento a história se perde e tende ao clichê. Fridriksson acerta no uso metalinguagem e mostra a doença com uma certa dose de humor e esperança. Mas exagera na menção ao seu outro longa-metragem “Filhos da Natureza”, é quase uma propaganda. O drama familiar não toca como deveria. Não há aprofundamento do sentimento da mãe ou do filho, fica meio solto. Ainda assim, é um filme islandês, raro nesse lado dos trópicos, só isso já é motivo para assistir na Mostra. Mas ele também já saiu de cartaz. Quem sabe na repescagem da Mostra?

Saí da sala de projeção lembrando do argentino com a mesma temática “O Filho da Noiva” (2001). Os dois longas falam do mesmo assunto e têm cenas cômicas, mas o portenho sensibiliza muito mais. Será que a cultura da Islândia é tão diferente que influencia na forma de fazer cinema? De qualquer maneira, é unanimidade neste universo que para fazer boas produções é preciso contar uma boa história. A de Fridriksson é razoável e a de Campanella, já se conhece, é emocionante.

Abaixo o trailer de Mamma Gógó com legenda em inglês

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Rapunzel costarriquenha

26 de outubro de 2010

Série de críticas de filmes da 34ª Mostra Internacional de Cinema



Do amor e outros demônios (Del amor y otros demonios - 2009) é a história de uma menina de 13 anos com longos cabelos vermelhos chamada Servia Maria que vê seu mundo letárgico mudar após a mordida de um cão raivoso. Passada na época da inquisição, a história é inspirada no romance homônimo do Nobel Gabriel Garcia Marquez. Entendendo que a raiva era uma doença da alma, o bispo de Cartagena obriga o marquês de Casalduero a tirar sua filha ruiva do convívio social para uma suposta cura espiritual sob a supervisão do jovem padre Cayetano Delaura (Pablo Derqui) em um convento de freiras. O amor entre o padre e a ruiva floresce das sessões de exorcismo.

O impacto inicial do filme é delicioso. A primeira cena traz Sérvia Maria, interpretada por Eliza Triana, de pele alvíssima com lindas tranças vermelhas se despedindo em um barco de sua escrava africana de cabelos grisalhos em um turbante também vermelho contrastando com o cenário do fundo todo em tons de verde. É uma cena bela, mas o filme, apesar de bonito, não surpreende.

Falta à estréia da cineasta Hilda Hidago, aquele tempero do realismo fantástico de Garcia Marquez. Muitas cenas carecem de diálogo e a história de amor fica em segundo plano. Para falar a verdade, quase se esquece o nome do longa, ele poderia se chamar Da madorna, demônios e um pouquinho de amor.

Mas afinal, já se sabe que um filme dificilmente alcança a maestria do livro inspirador. Um exemplo bem recente e comercial é “Comer, rezar, amar” com a rasa atuação de Julia Roberts, bela fotografia e péssima adaptação do livro com o mesmo nome. Se essa obra foi difícil de trazer às telas, o que falar de quem tem a ousadia de levar ao cinema toda a genialidade de Garcia Marquez? Não é tarefa fácil. Exemplo disso é a frustrante adaptação de “O amor nos tempos do Cólera” de Mike Newel (2007). Se o longa de Hilda não empolga como um Nobel merece, pelo menos não chega a incomodar quem o vê, isso já é um mérito.

É interessante ressaltar que o filme mantém as inferências fantásticas do livro como em Rapunzel. Ou seja, é apropriado associar o filme ao conto da princesa presa na torre que espera seu príncipe salvador, nisso Hidalgo acertou. Mas o romance proibido de Cayetano e Servia do longa é quase uma história da Carochinha, falta a angústia do sentimento impossível, ou em bom português, falta tesão.

A direção de arte fez um ótimo trabalho e a trilha sonora de Nério Barberis (que não por acaso também esteve à frente do som de “O crime do Padre Amaro” em 2002) combina com a história de um filme que louva o amor.

Mesmo assim vale a pena conferir este filme (co-produção da Costa Rica com a Colômbia) que, assim como outros dez latino-americanos, concorre aos indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E ainda que o Brasil esteja entre estes concorrentes, parece fora do esquadro. Resta saber quando o cinema brasileiro vai seguir essa boa onda latina.

Do amor e outros demônios - trailer


Quer assistir na Mostra? Ainda dá tempo:

Cinemateca - Sala BNDES
Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino
Terça-feira 26 de outubro, 16:30

Belas Artes - Sala 2
Rua da Consolação, 2423, Consolação
Sábado 30 de outubro, 20:10

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