Rapunzel costarriquenha

26 de outubro de 2010

Série de críticas de filmes da 34ª Mostra Internacional de Cinema



Do amor e outros demônios (Del amor y otros demonios - 2009) é a história de uma menina de 13 anos com longos cabelos vermelhos chamada Servia Maria que vê seu mundo letárgico mudar após a mordida de um cão raivoso. Passada na época da inquisição, a história é inspirada no romance homônimo do Nobel Gabriel Garcia Marquez. Entendendo que a raiva era uma doença da alma, o bispo de Cartagena obriga o marquês de Casalduero a tirar sua filha ruiva do convívio social para uma suposta cura espiritual sob a supervisão do jovem padre Cayetano Delaura (Pablo Derqui) em um convento de freiras. O amor entre o padre e a ruiva floresce das sessões de exorcismo.

O impacto inicial do filme é delicioso. A primeira cena traz Sérvia Maria, interpretada por Eliza Triana, de pele alvíssima com lindas tranças vermelhas se despedindo em um barco de sua escrava africana de cabelos grisalhos em um turbante também vermelho contrastando com o cenário do fundo todo em tons de verde. É uma cena bela, mas o filme, apesar de bonito, não surpreende.

Falta à estréia da cineasta Hilda Hidago, aquele tempero do realismo fantástico de Garcia Marquez. Muitas cenas carecem de diálogo e a história de amor fica em segundo plano. Para falar a verdade, quase se esquece o nome do longa, ele poderia se chamar Da madorna, demônios e um pouquinho de amor.

Mas afinal, já se sabe que um filme dificilmente alcança a maestria do livro inspirador. Um exemplo bem recente e comercial é “Comer, rezar, amar” com a rasa atuação de Julia Roberts, bela fotografia e péssima adaptação do livro com o mesmo nome. Se essa obra foi difícil de trazer às telas, o que falar de quem tem a ousadia de levar ao cinema toda a genialidade de Garcia Marquez? Não é tarefa fácil. Exemplo disso é a frustrante adaptação de “O amor nos tempos do Cólera” de Mike Newel (2007). Se o longa de Hilda não empolga como um Nobel merece, pelo menos não chega a incomodar quem o vê, isso já é um mérito.

É interessante ressaltar que o filme mantém as inferências fantásticas do livro como em Rapunzel. Ou seja, é apropriado associar o filme ao conto da princesa presa na torre que espera seu príncipe salvador, nisso Hidalgo acertou. Mas o romance proibido de Cayetano e Servia do longa é quase uma história da Carochinha, falta a angústia do sentimento impossível, ou em bom português, falta tesão.

A direção de arte fez um ótimo trabalho e a trilha sonora de Nério Barberis (que não por acaso também esteve à frente do som de “O crime do Padre Amaro” em 2002) combina com a história de um filme que louva o amor.

Mesmo assim vale a pena conferir este filme (co-produção da Costa Rica com a Colômbia) que, assim como outros dez latino-americanos, concorre aos indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro. E ainda que o Brasil esteja entre estes concorrentes, parece fora do esquadro. Resta saber quando o cinema brasileiro vai seguir essa boa onda latina.

Do amor e outros demônios - trailer


Quer assistir na Mostra? Ainda dá tempo:

Cinemateca - Sala BNDES
Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino
Terça-feira 26 de outubro, 16:30

Belas Artes - Sala 2
Rua da Consolação, 2423, Consolação
Sábado 30 de outubro, 20:10

1 comentários:

Naninha,  28 outubro, 2010 00:03  

Nossa, adorei! Vc está me saindo uma bela crítica de cinema!! Fiquei me roendo de curiosidade para ver esse filme e o do menininho autista!! Sua descrição nos envolve, nos aprisiona e a gente fica realmente com vontade de "ver para crer".
Parabéns!

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