Apologia ao ego

27 de abril de 2010


Paulistano adora autopropraganda. Aliás, São Paulo é um marketing por si só. Esse blog mesmo, não passa de um merchandising do tipo: ”Compre São Paulo para você também”.

Aqui o mercado vai bem além do óbvio. Hoje ouvi duas mulheres conversando: “Sabe a Marisa? Ela vem mandar em mim, dá uma raiva. E o pior, as pessoas gostam dela. No fim das contas quem faz tudo sou eu. Porque as pessoas gostam dela? Não entendo!”

E a resposta foi: “É que a Marisa faz marketing pessoal!”

An? A Marisa tem marketing pessoal? Agora safadeza mudou de nome?

Eu tenho a sensação que qualquer hora vão criar uma lei estadual para a pessoa virar empresa. Não vai mais existir pessoa física. Ser humano é tão século XX, démodé demais!

Já reparou como aumenta o número de pessoas que trabalha como PJ? No trabalho e nos círculos sociais temos o tempo todo de manter bons relacionamentos interpessoais (que o diga a Marisa), além de fazer marketing profissional para a galera do Corinthians e ter extenso network. Estamos nos vendendo o tempo todo. Cadê o CONAR para ajudar?

Outro dia li em um site: “saiba como explorar mais seu capital erótico”. Para ter capital erótico a receita de bolo é bem simples: seja belo, atraente, sociável, bem apresentado, antenado e fértil. Pronto, facílimo!

Pense que se você for feio, pode chamar o Ivo Pitanguy. Se não tiver sex appeal, é só fazer um curso de massagem tântrica. Caso tenha timidez, faça teatro. Cafona? Shopping with one personal stylist! Para quem não está conectado com as tendências, iPad you, já! E se você não é fértil, tá moleza, in vitro serve pra isso.

Mas nada disso adianta se você não tem borogodó! Também conhecido por le joie de vivre. Ahh, você não nasceu a Carla Bruni? Então desolé!

Em São Paulo esse egomarketing pauta a vida das pessoas. Cansei de ouvi que fulano tem um coach, beltrano tem um livro de auto-ajuda que ensina como trabalhar seus medos que nem você sabia que existia e Ciclano vai dar uma palestra sobre o segredo de um casal bem sucedido, rico e que vive 258 anos juntos.

Ah sim, claro! To acreditando nisso tudo. Mas e daí? Se você não quiser ser o mestre kama sutra do capital erótico? Qual é o problema? Se seu marketing pessoal não está crescendo nas pesquisas do twitter, o que eu tenho com isso? Como diz uma mulher sábia: “No final é tudo terra na cara!”

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Declaração candanga

22 de abril de 2010


Foto: Luisa Picanço

Declaro para os devidos fins que eu amo Brasília. Acabei de me dar conta. Eu a amo como se ama um homem confuso e perturbado, que você faz de tudo para não amar e ama mesmo assim. Você foge dele, só para depois sentir falta.

Daqueles amores difíceis (quase nenhum amor é fácil, só os perecíveis), mas perenes. Tenho a tendência de só perceber um amor quando ele não está ao meu alcance.

Ontem eu nem lembrei da capital federal. Tive um feriado paulistano. Com direito ao Conjunto Nacional (este nome sempre vai me lembrar o primeiro shopping candango), cineSesc, shopping Pátio Higienópolis e à rodoviária do Tietê.

Convenhamos, amores mal resolvidos sempre merecem uma segunda chance. Então preciso dizer, com todo meu exagero, que eu sou completamente apaixonada por Brasília. Amo dirigir no Eixão às 4 da manhã, amo andar no parque olhos d’água.

Nada no mundo me dá mais felicidade que ver a varanda da casa dos meus pais do eixinho. Aquela sensação de “agora estou no meu lugar”, onde ninguém questiona se eu sou carioca, paulista ou nada. Lá se respeita a migração, porque é disso que a cidade é feita. E se cultua a cultura nordestina. Carne-de-sol é referência de comida, forró é a balada da sexta.

Sou tão apaixonada pela capital que não consigo imaginar universidade melhor que a minha, nenhuma é mais bonita, ela também virou cinquentinha ontem. E não há quem ame mais o Martinica que eu. Nem o Café da Rua 8. Foi no cerrado que aprendi a beber café.

Quando alguém fala mal de Brasília, tenho vontade de defender. Eu falo mal do quadradinho há mais de 20 anos. Mas não permito que um paulistano tenha a cara-de-pau de me dizer que aquela cidade não presta, que só tem político, etc. E carioca que me pergunta se eu conheço o presidente? Pelo amor de Deus, vá conhecer o DF, meu filho!

Perdoem o clichê, amo mesmo o céu candango. Um céu que tem cara de céu, cor de céu, tamanho e dimensão de céu. Como deve ser. Sem prédio para atrapalhar, sem montanha para competir, sem nuvem para esconder. Um céu nu, descarado, debochado. Aquele lado do homem perturbado que faz você insistir no amor. E de repente quando você menos espera, está lá a paixão escancarada e você sabe exatamente o motivo.

Amor é assim mesmo, bom ou ruim, saudável ou corrosivo, se é amor, não sai nem tão cedo. Como disse, eu amo Brasília. Ufa! Sabe quando você tira um peso das costas? Uma caixinha a menos na minha lista de amores mal resolvidos.

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Pedacinho carioca

19 de abril de 2010


Estou com uma estúpida saudade do Rio. Estúpida porque não dá pra matar. E tudo isso porque Pinheiros me lembra a Guanabara.

Meu Rio de Janeiro... Hoje queria poder caminhar na Rua Pereira da Silva até o Largo do Machado. Chegando lá, saudaria um bom número de pessoas vestindo a camisa do meu time ou quem sabe iria até uma banca só para ver o pôster do glorioso time da estrela solitária. E comentaria: 'puxa, que foto linda' mesmo com a pose cafona dos jogadores, só por amor ao futebol.

Queria comer sanduíche no Cervantes com Denis Matos, Bruno Barão e Naninha Trapicheira, lá pelas cinco da matina. E sentir o cheiro de livro velho na biblioteca da FND, em época que eu acreditava no CACO e passeava pelo Saara.

Estou com aquela vontade de encontrar meu primo que mora nas Laranjeiras com seu all star super azul, para botar o papo em dia e nadar no play.

Tenho um desejo de mais tardes regadas a mate gelado e sol de rachar. Com direito a pão de queijo e recital de poesia na Rua Inhangá. Poderia só mais uma vez encher as paredes de casa com réplicas do magnífico J. Carlos? E comprar temperos de tonel, com aquele cheiro gostoso de pimenta dos armazéns?

Ai, como gostaria de ouvir o seu Madruga gritando “Carteirinha na mão, carteirinha na mão”! Segunda-feira era dia de Hino no Bennett: “Alma mater, seu hino de glória, seja audaz, juvenil, triunfal...”

Hoje eu queria sair do trabalho e comer quindim de camisola lá na confeitaria Colombo. Tudo bem! Está floreado este texto, estou me sentindo com o estilo do Casimiro de Abreu e seus oito anos! Até parei com a sessão nostalgia.

O fato é que tenho feito em minha mente maluca uma associação entre Pinheiros e Copacabana. Deve ser delírio de tanto aspirar poluição...

Quando falei disso aos amigos paulistanos, o riso comeu solto. Mas juro, vejo uma bizarra semelhança entre a Teodoro Sampaio e a Nossa Senhora de Copacabana, assim como acho que a Cardeal Arcoverde parece com a Barata Ribeiro. O mesmo buchicho, aqueles muitos ônibus em uma rua apertada, a facilidade de ter tudo naquelas ruas. Sei lá. Pinheiros parece que tem outro ritmo, diferente do resto da cidade do impossível.

Ok! São dois mundos completamente distintos, mas um vai sempre me remeter ao outro. Só deixo a Atlântica sublime e intocável, cheia de pivetes e camelôs durante o dia e suas prostitutas na noite alta. O oposto da feia, porém útil e bem mais segura, Avenida Rebouças.

E ninguém ouse me tirar esta associação improvável! Afinal de contas, eu encontrei meu pedacinho carioca no coração paulistano. Nada mais justo para uma candanga.

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Jardineiros

14 de abril de 2010


Foto: Jardins de Notting Hill

Atualmente tenho andado muito pelos Jardins e me pergunto: em que planeta vivem os jardineiros paulistanos? No planeta das flores? No planeta dos metidos a ricos e famosos? Ou no planeta dos alienados? Com certeza vivem no mesmo planeta que o pessoal do Itaim Bibi.

Enquanto andava por uma rua dos Jardins, vi um lugar que se chamava conexão Paris. Conexão ZL não tem, né? Claro, vamos todos ignorar a grande massa de pessoas que vivem em péssimas condições no nosso quintal. Que tal uma conexão Morro dos Prazeres? Ou até uma Conexão Tabuleiro dos Martins? Nada feito.

A sensação que me dá, e me desculpem se discordam, é que estou em outra cidade, não é São Paulo. Nem parece que a rua da Consolação é logo ali, ou que é só esticar o passo e você está no Anhangabaú. Na verdade, tenho a nítida impressão de que vou mesmo chegar a Paris ou Nice ou até em um lugar chamado Notting Hill. E por quê? Que irrealidade é esta no coração da cidade? Quem mora aqui sabe que o que separa a pobreza da riqueza em São Paulo, às vezes, é uma avenida, ou um muro, como no Morumbi. Todo mundo aceita isso? Pra mim tá difícil de engolir.

E o pensamento de alguns seres que habitam os bairros nobres da paulicéia? Ontem mesmo vi um babaca no almoço que me deu vontade de meter a mão na cara. Era um cara que soltava umas frases tipo “Fulana é gostosa, mas tá precisando de uma academia, também tá quase com 40 anos, né?” Ou “ Ah, pois é, Beltrana? Engravidou, tá um dragão! Era a mulher mais gostosa do trabalho, uma delícia.”

Ainda foi tirar onda com os amigos: “No meu flat sempre dou caixinha para os caras que trabalham do outro lado do balcão, aí eles me dão de volta um belo café da manhã, mas eu não dou caixinha por isso, dou porque tenho pena, mas olha só que legal, eles me dão um puta café”. Em vez de dar caixinha para NÃO ganhar café, porque não ajuda uma instituição de caridade? Fútil filho da mãe.

Outra pérola do babaca foi quando chegaram duas vendedoras de pano-de-chão à mesa dele. Um outro cara da mesa comprou 6 panos por 10 reais e o cretino, não satisfeito em me fazer ouvir as burrices que fala, vira pra uma delas e fala: “ Você come mais que ela, né? Dá pra ver” A coitada da gordinha sorriu sem graça e ele finalizou “Que sacana! Tá bem mais gorda que ela, fica explorando a coitadinha”

Sacana? Sacana é ele! Fiquei tão indignada que tive até indigestão! Jura que tem gente que pensa assim? Em plenos Jardins? O dinheiro não ajuda a pensar no outro? Nem um pouquinho? Impossível!

Perdoem a mania de moralismo, não é que tenho tendências comunistas (que fique claro), mas aos jardineiros paulistanos proponho que plantem flores no resto da cidade. Parem de viver neste mundinho tão cor-de-rosa. O cinza começa logo ali na esquina da Paulista com a Consolação, sentido centro. Ok?

P.s revoltado: Ainda acho que aquele babaca merece um vômito na cara. Pena que não lembro a cara dele...

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Uma palavra chamada sonho

12 de abril de 2010


Foto de André Bonacin
Nascer do sol paulistano

Ontem foi uma noite memorável com direito a bolo de cenoura, caipirinha de tangerina, coca-cola e mortadela. Também teve mala, rato e estante. Lá no meio da bagunça, madrugada alta, tinha uma moça saindo do forno (e do fogão, recém instalado), em uma nova etapa de vida, a cabeça fervilhando. Eu e minha mania de sonhar. Com vodka, engraçado, sonho ainda mais.

Sonho porque sonho é de graça. Ontem sonhei que dava para ver o sol nascer em São Paulo. E fui à rua comprovar. Angélica acima. O sol nascia e eu andava. E, a cada passo, sonhava. Bem, foi sonhando que cheguei à Consolação. Diga-se de passagem, desconsolada com meu sonho, meus medos, meus anseios.

Mas dessa vez não vou parar de sonhar, já chega. Porque de novo o bom senso me diz para parar de sonhar. “Para moça, que mania de viver no mundo das nuvens”.

To avisando logo bom senso, cansei de seguir você. Dessa vez basta! O sonho é meu, você é que já devia estar bem pra lá das nuvens. Em bom paulistanês: vaza!

Afinal, desde quando sonho é feito de bom senso?

Acabei vendo o sol rebento quando já estava do lado de casa. E aquela brisinha marota da primeira hora da manhã me disse: “Isso aí, não para mesmo de sonhar”.

É, por mais estranho que pareça, acho que meu sol tá começando a despontar na cidade do impossível.

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