Declaração candanga

22 de abril de 2010


Foto: Luisa Picanço

Declaro para os devidos fins que eu amo Brasília. Acabei de me dar conta. Eu a amo como se ama um homem confuso e perturbado, que você faz de tudo para não amar e ama mesmo assim. Você foge dele, só para depois sentir falta.

Daqueles amores difíceis (quase nenhum amor é fácil, só os perecíveis), mas perenes. Tenho a tendência de só perceber um amor quando ele não está ao meu alcance.

Ontem eu nem lembrei da capital federal. Tive um feriado paulistano. Com direito ao Conjunto Nacional (este nome sempre vai me lembrar o primeiro shopping candango), cineSesc, shopping Pátio Higienópolis e à rodoviária do Tietê.

Convenhamos, amores mal resolvidos sempre merecem uma segunda chance. Então preciso dizer, com todo meu exagero, que eu sou completamente apaixonada por Brasília. Amo dirigir no Eixão às 4 da manhã, amo andar no parque olhos d’água.

Nada no mundo me dá mais felicidade que ver a varanda da casa dos meus pais do eixinho. Aquela sensação de “agora estou no meu lugar”, onde ninguém questiona se eu sou carioca, paulista ou nada. Lá se respeita a migração, porque é disso que a cidade é feita. E se cultua a cultura nordestina. Carne-de-sol é referência de comida, forró é a balada da sexta.

Sou tão apaixonada pela capital que não consigo imaginar universidade melhor que a minha, nenhuma é mais bonita, ela também virou cinquentinha ontem. E não há quem ame mais o Martinica que eu. Nem o Café da Rua 8. Foi no cerrado que aprendi a beber café.

Quando alguém fala mal de Brasília, tenho vontade de defender. Eu falo mal do quadradinho há mais de 20 anos. Mas não permito que um paulistano tenha a cara-de-pau de me dizer que aquela cidade não presta, que só tem político, etc. E carioca que me pergunta se eu conheço o presidente? Pelo amor de Deus, vá conhecer o DF, meu filho!

Perdoem o clichê, amo mesmo o céu candango. Um céu que tem cara de céu, cor de céu, tamanho e dimensão de céu. Como deve ser. Sem prédio para atrapalhar, sem montanha para competir, sem nuvem para esconder. Um céu nu, descarado, debochado. Aquele lado do homem perturbado que faz você insistir no amor. E de repente quando você menos espera, está lá a paixão escancarada e você sabe exatamente o motivo.

Amor é assim mesmo, bom ou ruim, saudável ou corrosivo, se é amor, não sai nem tão cedo. Como disse, eu amo Brasília. Ufa! Sabe quando você tira um peso das costas? Uma caixinha a menos na minha lista de amores mal resolvidos.

4 comentários:

Anônimo,  29 abril, 2010 01:24  

Eu também AMO Brasília. E vou sempre amar. Amei seu texto, como sempre. Te amo! Sua Naninha.

Juliano 29 abril, 2010 01:25  

Já fui doente por Brasília, já odiei Brasília. Hoje, "naturalizado" paulistano, amo essa cidade maluca, mas acho que Brasília oferece um monte de oportunidades boas e pode valer a pena. Adorei o texto!

Rods 30 abril, 2010 00:06  

Adorei o texto Lu, e agora me caiu a ficha q amo Brasília. Aqueles amores q vc não consegue dizer "eu te amo" acho q é isso. Detalhe pra fotografia, ficou muito boa. E qdo vc vem hein? Saudades, beijos, Rod!

cidadã metropolitana 13 maio, 2010 14:10  

Que bom que gostaram! Acho que quem mora em Brasília não consegue ser indiferente, né?

Beijos e venham sempre!

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