Receita de amor perdido

17 de dezembro de 2010

Quando o amor acabar, saia por aí e tome todas. Telefone para os amigos, fale que está desesperado, que não sabe o que fazer. Chame os solteiros que deixou de lado por causa daquele amor idiota. Peça desculpa a eles. Chore todas as mágoas, durma abraçada com uma amiga que insiste em consolá-la dizendo que o amor não acabou. Passe noites em claro.

Fale para o mundo que está bem, que o amor acabou, mas você ainda está vivo. Perca a fome ou a forma. Sinta o vazio na barriga e finja que é dor de estômago. Sabemos você e eu que a dor é outra e que era preferível um milhão de vezes que fosse gastrite.

Beije outros, outras, ria, divirta-se. Ok! Chore mais se for preciso. Pense nos planos que fizeram juntos, nesse momento talvez o mundo se despedace aos seus pés. Sinta-se idiota por planejar um futuro com aquela pessoa. Saiba-se idiota. Você é idiota. Como foi capaz de deixar um amor acabar? Só um imbecil faz isso.



Calma! Depois disso tudo, reaprenda a se respeitar. Não é só culpa sua, oras! Tem o outro. Aquele cretino. Tenha raiva dele. Internamente envergonhe-se de ter raiva dela. Tudo bem, o que importa? Os sentimentos estão mesmo confusos. Diga para si mesmo o quanto você é maravilhoso e o quanto seu amor é burro. Reconheça-se. Lembre-se de como você adorava bala de canela e não podia comer só porque aquele chato não gostava. Ria de você e dele. Vingue-se! Compre uma caixa de balas, empanturre-se delas.

Aí perceba que nem gostava tanto assim de bala de canela quanto gostava dele. Tenha frio na barriga toda vez que for àquele bar que iam juntos na Vila Madalena. Ah! Fuja correndo do Belas Artes ao vê-lo na fila da bilheteria justo no dia que seu cabelo resolveu não colaborar. Não tem problema. O amor tem um quê de ridículo.



Você ainda vai ter vontade de ligar para ela depois de um dia difícil. Vai se sentir sozinho no domingo. Vai sofrer um pouquinho naquele dia especial. Lembrará-se dela quando vir a Audrey Hepburn na TV a cabo. Mandará uma mensagem de amor perdida ao ouvir “Something” do George Harrison. Mas o tempo vai passar.



Uma hora vai chegar à improvável conclusão de que o amor acabou mesmo. Sua vida continuará. As lembranças doerão menos. O relógio, meu caro, faz a mágoa, a raiva, o tédio, o vazio, tudo passar.

Descanse dos sentimentos tristes. Insisto, veja os amigos novos e os antigos. Amigos são amores bem resolvidos. Não precisam de sexo e quase nunca sentem ciúmes. Recomendo também que fale com sua família. É impressionante quão bem aquelas pessoas o conhecem e o amam.

Respire fundo. Sinta-se leve como há muito tempo não sentia. Apaixone-se brevemente no metrô. Volte a flertar. Anime-se quando aquela nova deusa aceitar sair com você!

De repente entenderá que o amor não acaba, afinal isso é impossível. Ele transforma-se. A transformação permite você seguir em frente. No fundo você sempre soube que aquele era um amor para prepará-lo ao próximo. O próximo sempre chega.

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