Muro de Berlim paulista

11 de fevereiro de 2010


O namorado de um amigo meu disse ao me conhecer que me achou muito legal, mas observou que eu era meio sozinha. Completou dizendo que, não só eu, mas as mulheres em São Paulo são muito solitárias.

Solidão paulistana. Para mim, como diz a música do Skank, “A solidão é uma velha amiga”. Mas e para as outras pessoas? Será que é verdade? Será que em São Paulo as mulheres são mesmo muito sozinhas? E se são, por que isso acontece?

Eu, particularmente, acho que momentos sozinhos não precisam ser (nem de longe) momentos ruins. Estar sozinha é também uma oportunidade de se dedicar a si. Mas de fato é comum ver em SP não só mulheres, mas pessoas muito solitárias. Mesmo as que são daqui e têm família, amigos, vida social. Conheço dois bons exemplos.

Uma é mulher, pouco mais de 20 anos, linda, inteligente, com uma carreira promissora na televisão. Uma mulher alegre, cheia de vida, com mente aberta, pai e mãe que moram aqui, irmão na cidade, vários e diferentes amigos, uma pessoa bem popular. Mas alguma coisa no olhar dela denuncia, ela está sozinha. Sozinha, no caso dela, não é sinônimo de tristeza, que fique claro. Está sozinha por opção, imagino.

O outro exemplo, este sim tem tristeza no olhar, é de um homem. Por volta dos seus 30 anos, ele tem tudo o que um homem precisa: é bonito, inteligente, culto, solteiro, com um bom emprego, tem tempo para fazer o que gosta, mora com a mãe, tem dois sobrinhos fofos e, no entanto, uns olhos tão tristes e solitários que incomodam. Tem poucos amigos, não é muito de sorrir, tem um ar sorumbático. E ele se esforça muito para fingir que isso não o incomoda. Ao mesmo tempo, faz um esforço grande para ficar sozinho, evita se envolver além da superficialidade, o que é ainda mais estranho.

Será que o paulistano médio prefere a solidão? Aqui é fácil fazer amigos, mas algumas amizades parecem mesmo superficiais. Parece que a cidade transpira a superficialidade. É como se as pessoas preferissem não se aprofundar. Será medo de sofrer, já que muitas pessoas só estão por aqui de passagem? Ou será que é costume da região? Será que se aprofundar dá trabalho e exige dedicação e isso não combina com uma cidade tão apressada? Ou a solidão é reflexo de cidade grande e atinge todas as metrópoles do século XXI?

Que as pessoas são sozinhas por aqui, não resta dúvida. Elas refletem essa solidão no jeito de andar, de falar, de se relacionar. Como isso é possível em uma megalópole com 11 milhões de habitantes, não sei dizer. Aposto no medo e na superficialidade. Medo de se envolver e sofrer com isso. Parte daí a superficialidade das relações.

Aos que passam por aqui ou aos residentes incomodados, resta entender, aceitar, quem sabe até, adaptar-se ao muro invisível. Ou aos mais otimistas (incluo-me neste grupo), a solução é romper a barreira que segrega os paulistanos, em uma espécie de muro de Berlim sentimental.

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