A prova dos nove
9 de fevereiro de 2010
Ao conversar com um amigo sobre “Nine” (2009) de Robert Marshall, ele disse: “Fazer uma releitura do clássico ”8½“ (1963) de Fellini é como querer repintar um Monet. Nunca vai ser bom como o original”. Contra-argumentei que as pessoas fazem versões de obras-primas para homenagear seus ídolos.
Essa era a ideia de Marshall, diretor consagrado pelo musical “Chicago” (2002). Com Nine, ele tenta prestar uma homenagem a Fellini. Mas fracassa. A adaptação cansa. As músicas e as performances são fracas. O excelente Daniel Day-Lewis, ator de obras como “Meu pé esquerdo” (1989) e “Sangue Negro”(2007) está perdido em Nine, aliás, como seu personagem Guido Contini.
A história se passa na Itália de meados do século XX. Guido é um cineasta (o longa é todo feito em meta-linguagem) em crise existencial. Um homem que se define como alguém com a mente de 10 anos em um corpo de 50, que não consegue um roteiro para o próximo filme e entra em depressão.
Luisa Contini (Marion Cotillard) é a esposa traída do diretor. Marion é uma das poucas atrizes com boas interpretações no longa-metragem. Reconhecida pela atuação de “Piaf – um hino de amor”, ela empresta seu charme ao musical de Marshall e mostra que mesmo quando uma adaptação se perde, é possível brilhar.
Já Penélope Cruz, a amante Carla, tem o corpo bem mais em evidencia que seu talento. Uma personagem que aceita humilhações por amor. A cena do marido de Carla é deprimente, e é talvez uma das poucas cenas que incomoda quando deve incomodar.
Sophia Loren interpreta a mãe de Contini bambino, mas não parece mãe de Day-Lewis, aliás, Sophia Loren só parece com ela mesma e mais ninguém. Guido parece um menino chorão, embora tenha barba na cara, uma carreira promissora, beldades que caem aos seus pés, uma mulher dedicada e amigos fiéis. Nem o papa salva o italiano do desespero.
O mérito da filmagem vai para a fotografia e figurino (este indicado ao Oscar 2010), ambos criam o clima de um cineasta mulherengo cercado de corpetes, cigarros e repórteres. Não dá para falar de um musical sem considerar a trilha sonora (diga-se de passagem muito aquém de “Chicago”). Os pontos altos da trilha são: a interpretação da cantora Fergie, do Black Eyed Peas, em “Be Italian” e o desempenho de Judi Dench que nos remete ao glamour das vedetes francesas com o número do “Folies Bergére”. Nicole Kidman, a musa Cláudia do diretor, mostra que continua afinada com em "Moulin Rouge" na canção “Unusual Way”, mas é praticamente apagada no filme.
O melhor do filme? Com certeza o Karmann-Ghia azul claro conversível de Guido. Uma graça à parte do cansativo musical.
2 comentários:
gostei, lu!
bjos,
jv
obrigada querido!
bjs
Lu
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