I - Das paixões que vemos por aí

18 de fevereiro de 2010



Carta a um marinheiro sul-africano

Israel, 11 de janeiro de 1988

Ouvi dizer certa vez que até para chupar um picolé é preciso ter paixão. Hoje chupei um picolé em sua homenagem. Não sei quem você realmente é. Só sei, e isso me basta no momento, que meu pensamento me perturba, insiste a minha mente em pensar em você.

Eu penso em meu pensamento que eu mesma pare (por favor!) de pensar em você, o que já é em sim um pensamento em você. Fico nesse vício de pensar em não pensar. É sufocante e de nada adianta e, o pior de tudo, não me liberta do que penso.

Mas não é a paixão um sentimento? E sentimento e razão, não são antagônicos? Não, não podem ser, por que eu, racionalmente falando, não consigo tirar você da minha cabeça. Talvez, se eu parasse de pensar, talvez assim, quem sabe, você saísse da minha mente.

Mas é possível se apaixonar e não pensar? Faço paródia a um poeta brasileiro e penso: o que pode um ser apaixonado senão, durante a paixão, pensar?

Saia do meu pensamento. Você e seus olhinhos infantis. Você e seu jeito burro e covarde que eu desprezo. Xô, pensamento tolo, sai dessa mente que não lhe pertence.

Que posso eu fazer se você, estupidez em pessoa, não tem o mínimo de dignidade? E que dignidade tenho eu em lhe escrever esta carta? Ou em me apaixonar por você?
Pois muito que bem. Não sai? Desgraça. Fico pensando feito idiota, até o pensamento se esvair por conta própria. Vou parar de lutar contra o que não adianta.

Detesto esse pensamento cretino que não me leva a lugar algum e, definitivamente, detesto pensar em você. Deve ter um jeito de esquecer você. Escrevo esta carta na tentativa frustrada de tirar da minha mente e passar para o papel esse sentimento tolo. E também porque quero que você saiba o que sinto, tenho a vã esperança de você ter coragem de ler estas letras dramáticas.

Vai embora e leva o picolé com você, porque picolé engorda. E pare de me atormentar em pensamento.

Ilana

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