Melhor assim

15 de agosto de 2010



Esses dias, eu voltava de uma balada quando o celular do taxista tocou. Celular e carro não deveriam andar juntos, odeio motorista que atende celular quando está no trânsito. Esse taxista não atendeu ao telefone, mas o toque me chamou a atenção. Era a música “Pretty Woman” do Roy Orbison.

Perguntei o motivo de aquele ser o toque. Ele disse que era o toque da veinha (sic) e completou dizendo que depois de 30 anos de casamento ele tinha de agradá-la de vez em quando. A música era um presente.

Naturalmente, afinal, 30 anos não são 30 dias. Bateu um vento frio naquela madrugada, aliás, está relativamente frio por aqui. Qual será o segredo para manter o calor em 30 anos de relação?

Há pouco tempo conheci uma moça lindíssima, dessas que os homens fazem fila. Fiquei ligeiramente chocada quando ela disse que já tinha casado e descasado, antes dos 30. Também conheci o melhor amigo dela. Companheiros de longa data, ele foi padrinho do matrimônio. Estava lá quando o casamento acabou. Aliás, está lá desde os oito anos. O ex-marido era homônimo do melhor amigo. É um caso de amor escancarado, mas os dois não querem perceber.

Chego à superficial conclusão de que minha geração não sabe viver a dois. Sim, ainda somos jovens, mas essa ruptura com a tradição de ‘com esse para sempre’ não é nossa, é bem mais antiga. Década de 60, revolução sexual. Tenho amigos sessentinhas que dizem que minha geração é muito careta. Mas em um jantar com amigos da minha geração ouvi um “Querida, você é muito tradicional!”

Tradicional? Eu? Onde? Parei para observar. Já que duas gerações me acham enquadrada, resolvi fuçar o que há de errado comigo. D’accord com o dicionário Michaelis: Tradição é substantivo feminino. Do latim traditione. 1 Ato de transmitir ou entregar. 3 Notícia de um feito antigo transmitida desse modo. 4 Doutrinas, costumes etc., conservados num povo por transmissão de pais para filhos. 5 Conjunto de usos, idéias e valores morais transmitidos de geração em geração.

Acho que a tradição das últimas gerações é se separar. Quem não conhece um sem número de casais separados, recasados, etc? Isso faz de mim, antes de uma tradicional, uma rebelde! Ora, eu acredito no amor e sou constantemente criticada por isso. “Pare de sonhar! Pare de acreditar!”

Separar pode ser difícil, mas é bem mais fácil que permanecer junto. Minha geração, convenhamos, é acostumada com o fácil. Desde supermercados 24 h a sites de relacionamento. A superficialidade é algo que nos define, seja por louvar quem usa roupas de marca ou por ligar o ar condicionado com qualquer calorzinho. Esquecemos (ou nunca nos ensinaram?) de nos adaptar, porque é bem mais fácil mudar tudo por nossa causa. Nosso umbigo é do tamanho do mundo.

Não estamos sozinhos. Não podemos manipular tudo e todos. O desafio é entender que o fácil nem sempre é o melhor. Melhor é poder se adaptar. Poder aceitar as diferenças, poder suportar um calor de 30 graus (o planeta e as próximas gerações agradecem pequenos hábitos sustentáveis). Reciclar é palavra de ordem.

Isso vale também para o amor. É fácil ter todos e não ter ninguém. Mas é melhor? Se fosse, não existia tanta gente desesperada com a famosa solidão. Mais do que a fantasia de poder ter tudo ao seu alcance, proponho o: Aceite o que tem por aqui. Reinvente!

Confabulei para chegar à conclusão de que sou semi-tradicional (sim, é uma contradição em termos). Surpreendo tanto os tradicionais quanto os moderninhos. O importante é incomodar. Nem que seja só um cadinho.

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